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POESIAS, VOZES E FALAS: A POTÊNCIA POÉTICA FEMININA DO SLAM DAS MINAS

Em um outro momento, praças estariam rodeadas de artistas. Acompanhadas de versos e poesias, meninas de todos os cantos da cidade recitariam em voz alta suas vivências, raízes e potencias. O Slam das Minas surge justamente desse exercício: oportunizar e potencializar a voz e a fala das mulheres e pessoas trans na sociedade, proporcionando um espaço acolhedor e de empoderamento. Com o isolamento social, não há poesia que ecoe em espaços públicos da cidade, mas o Slam se reinventa através do poder da internet.

Com até três minutos para apresentar, sem acompanhamento musical e utilizando somente o corpo e a voz, o poetry slam é um movimento cultural em forma de competição que surge nos Estados Unidos, na década de 1980. Foi trazido ao Brasil em 2008 por Roberta Estrela D’Alva – atriz e poetisa – e pelo coletivo teatral Núcleo Bartolomeu de Depoimentos.

Desde então, a cena da poesia falada vem crescendo e ganhando identidade própria por todo o Brasil. No Rio, o movimento é bastante ligado aos espaços públicos, diferente de outros países, onde acontecem em lugares fechados. “Em 2017, a gente fundou o Slam das Minas. A primeira ação foi no Largo do Machado, mas sempre se pretendeu itinerante”, explica Tom Grito, um dos fundadores do Slam das Minas.

O coletivo sempre teve uma relação forte com a rua, uma ideia de ocupação do espaço publico, especialmente para as comunidades da Região Portuária. É ali, inclusive, que Tom mora. “O slam das minas tem uma conexão bastante forte com o Morro do Pinto e o Morro da Providência. A gente faz muitas ações na zona portuária não só pela facilidade, mas pelo bairro ter muitas praças, espaços historicamente importantes e que também têm essa característica de reunir a comunidade. A gente tem essa preocupação política de garantir que a nossa comunidade possa contar suas próprias histórias e possa sobreviver com acolhimento”, conta Tom.

Com o caráter urbano presente, o movimento ganhou potência nas periferias. De lá para cá, muitos Slams surgiram nesses espaços. ”A maioria do nosso coletivo vive em favelas, já é nossa realidade diária transitar por esse espaço. O Slam abre um canal de diálogo com pessoas de realidade semelhante à nossa e joga luz nas potências que existem naquele lugar”, destaca Gênesis Gomes, poetisa do grupo.

O coletivo fez com que mais pessoas acreditassem na potência delas. “Normalmente essas populações são silenciadas, mas se elas não tiverem um lugar para elas se prepararem e não se sentirem seguras para falar, elas nunca vão conseguir falar. Então ali acaba sendo a oportunidade”, afirma Tom Grito. Além de um lugar de luta e resistência, o Slam é um espaço de acolhimento e afeto. “O efeito do Slam é de pertencer, se enxergar e fazer pensar. Tem a importância de ouvir e ser ouvido o que não é recorrente em outros espaços”, destaca Taiane Ribeiro, membro do coletivo.

Hoje, muitos grupos têm feito edições online. Mesmo sem a presença do público e a interação direta com a torcida, o formato remoto proporciona a participação de pessoas do Brasil inteiro.

Apesar do contexto, o coletivo prepara uma novidade: “a Comuna Deusa”. Uma Kombi toda colorida e estilosa que vai virar uma livraria e fazer serviços de tele-mensagens. Além disso, a Comuna Deusa vai ter uma missão nobre quando a pandemia passar: servir de palco itinerante para as batalhas quando tudo voltar ao normal. Tanto os artistas quanto o público torcem para que isso aconteça logo.

Texto: Pedro Dias | Fotos: Divulgação