Porto Maravilha concentra grafites no Rio de Janeiro/Foto: Marcello Santos e Douglas Dobby
Desde a implosão do Elevado da Perimetral a região portuária passa por um movimento de mudança de concepção. Sai de cena o viaduto e, onde ficava sua sombra, entram os inúmeros grafites e murais que dão voz à comunidade. Gerando desenvolvimento social por meio da arte, André Bretas é a figura por trás dos grafites do Porto mesmo sem nenhuma obra assinada propriamente por ele nas paredes da região. É que Bretas não é artista – no sentido literal da palavra -, não se atreve a pegar em uma lata de tinta ou pincel. Mas é ele que produz a maioria dos grafites do Porto. Ele é produtor cultural e sócio da Visionart’z. É também um grande articulador do cenário de arte urbana do Rio de Janeiro.
Bretas é carioca, tem 42 anos e trabalha com revitalização urbana por meio do grafite. A inspiração veio na época em que ele visitou Miami e conheceu o Wynwood Walls, projeto que mudou um bairro inteiro daquela cidade através de obras e grandes murais. Na sua volta ao Rio, trouxe a ideia de transformar aqueles cenários cinzas da cidade em arte urbana. “Minha infância foi na rua, sempre entendi como espaço de brincadeira e democracia”, conta.
Em 2010, o primeiro mural foi pintado na lateral de um prédio na Lapa. O projeto juntou pela primeira vez diversos artistas do Rio de janeiro. Deu certo, mas ainda era preciso quebrar uma grande barreira: mostrar que aquela arte era capaz de transformações. “Era difícil de engajar os comerciantes na ideia de que o grafite iria atrair turismo para região”. lembra Bretas.
Embora tenha passado por dificuldades no início do movimento, a proposta se mostrou um sucesso. Depois dessa primeira obra, vários outros projetos começaram com a ajuda de parceiros: a Secretaria de Conservação da prefeitura, estabelecimentos da região e patrocinadores. Segundo Bretas, foi nesse momento que ele percebeu que aquele modelo era possível “É bom para todo mundo, para o cidadão, para a cidade, existe uma melhora no ambiente que as pessoas moram. Na Lapa era um estacionamento irregular e com a revitalização acabou virando uma praça”, explicou.
Com a chegada da ArtRio – Feira internacional de arte contemporânea do Rio de Janeiro – os trabalhos passaram a ser vistos por espectadores até de outros países. Junto com a feira, surgiu o ArtRua. “Começou como uma grande exposição em 2011. Primeiro fizemos na Rua Pedro Ernesto, na Gamboa, depois nos armazéns do Morro da Providência”, conta André. Os murais e exposições deixaram de ser atrações exclusiva do projeto ao chamar atenção de todo o país: galerias do Brasil inteiro começaram a apresentar trabalhos de artistas urbanos.
Rua Walls
Uma transformação gigantesca que aconteceu na calada da noite: durante 30 madrugadas, uma turma de 18 artistas transformou a região portuária do Rio e a consolidou como a principal área de grafite da cidade. Ao todo, 16 painéis foram pintados ao longo de 1,5 km da Avenida Rodrigues Alves, no Santo Cristo.
A região, muito rica em cultura e história, precisava de atenção. Dessa necessidade nasceu o projeto que busca colorir não só aquela avenida, mas também mudar a vida dos moradores do entorno. “O grafite é uma arte muito democrática. Hoje eu tenho pessoas que começaram comigo lá trás, que frequentavam o ArtRua, que moram na região e que começaram a participar de produções” afirma. Segundo Bretas, 90% da equipe de produção é local. A iniciativa também dinamizou o mercado imobiliário do bairro, além de movimentar a economia local, impactada pela pandemia.
Dentre os artistas que participaram do projeto estão: Agrade Camís, Amorinha, Bruno Lyfe, Célio, Chica Capeto, Diego Zelota, Doloroes Esos, Flora Yumi, Igor SRC, Leandro Assis, Luna Bastos, Mariê Balbinot, Marlon Muk, Miguel Afa, Paula Cruz, Thiago Haule, Vinicius Mesquita e Ziza.
Todo o trabalho foi feito pela madrugada – das 22 às 5h – quando o trânsito estava interditado. Por conta da pandemia, a equipe de produção foi reduzida.
Texto: Pedro Dias | Fotos: Marcello Santos e Douglas Dobby