Mercedes, a primeira bailarina

Porto Maravilha homenageia a grande dama da dança com a ajuda de internautas

No centro do movimentado Largo de São Francisco da Prainha, na Saúde, a poucos metros da Pedra do Sal de do Cais do Valongo, pontos do Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana, a cidade faz uma homenagem à primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Mercedes Baptista. Inspira a estátua a filha de João Baptista Ribeiro e Maria Ignácia da Silva, Mercedes Baptista, que nasceu em 1921 em Campos dos Goytacazes (RJ) e veio ainda jovem com a mãe costureira morar no Rio de Janeiro. Ao trabalhar como bilheteira de cinema, descobriu a arte da dança. Pouco depois, tornou-se ícone por suas criações coreográficas que utilizam gestual da dança afro.

Mercedes frequentou a Escola de Dança da bailarina Eros Volússia, que investigava danças populares para criação de balé erudito brasileiro. Aluna de Yuco Lindberg, ingressou na Escola de Ballet do Theatro Municipal e, aprovada por concurso, passou a integrar o corpo de baile oficial. Estudos mostram que enfrentou muito preconceito por ser negra, deixando de ser selecionada por diversos diretores para compor elenco de espetáculos.

Fotos enviadas pelos Internautas Alexandre Mendes e Tatiana Dantas

Paralelamente, militou pelo reconhecimento e integração de atores e dançarinos negros no teatro brasileiro com o “Teatro Experimental do Negro”, fundado por Abdias do Nascimento, ao lado de artistas como Ruth de Souza, Haroldo Costa e Santa Rosa. Katherine Dunham, antropóloga matriarca da dança negra norte-americana, concedeu bolsa para Mercedes estudar em sua companhia nos Estados Unidos. Ao retornar em 1953, Mercedes criou o próprio grupo em parceria com o pesquisador Edson Carneiro, o Ballet Folclórico Mercedes Batista, com proposta de dança ligada à cultura afro-brasileira. O grupo correu o mundo.

O ineditismo fez parte de sua história. Dez anos depois, introduziu sua dança nos desfiles de escola de samba, no Salgueiro, coreografando a Comissão de Frente, mudando a concepção dos desfiles, que passaram a adotar alas coreografadas.

A influência de Mercedes levou à criação da disciplina Dança Afro-Brasileira na Escola de Dança do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Há exatos três anos, nesta sexta-feira, 18 de agosto, a notória bailarina morreu aos 93 anos. Sua dança e luta, no entanto, merecem homenagem e destaque na região do Porto Maravilha, que reverencia tamanhos talento, cultura e contribuição cultural.

O que dizem sobre Mercedes Baptista

“Ela era exigente… Nunca admitiu que usassem o negro como palhaço…” (Ruth de Souza)

“Ela preservou e contribuiu para a divulgação da dança negra no Brasil.” (Iléa Ferraz, do Grupo Emú)

“Hoje devemos muito à coragem e ao talento de Mercedes Baptista, que contribuiu para o reconhecimento do artista negro e transformou a dança no Brasil. Se hoje ainda vemos que há luta pelo caminho, consegue imaginar com era há quase 70 anos? ” (Rilden Albuquerque, gerente de Desenvolvimento Econômico e Social da Cdurp)

Participaram desta homenagem:

Tatiana Dantas e Alexandre Mendes (envio de fotos)

Aldari Marques (envio de dados)

Com informações do Portal do Museu Afro Brasil